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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A crise dos líderes sindicais

Coluna do Érico Firmo - O Povo

Há um aspecto em comum no desfecho das greves tanto dos professores, no Ceará, quanto dos Correios, em todo o País. Nas duas situações, as cúpulas sindicais perderam o comando do movimento. Numa e noutra paralisação, os representantes dos trabalhadores avançaram nos entendimentos com os governos. Nas respectivas assembleias, defenderam o retorno ao trabalho. Em ambas, esbarraram em divergências. O sindicato dos professores do Ceará, Apeoc, chegou a sofrer derrota em votação prévia entre a base. Na semana passada, conseguiu garantir a volta às aulas, em deliberação bastante polêmica, na qual houve evidente divisão, sem que ficasse claro se houve mesmo maioria pelo fim da paralisação. A federação dos trabalhadores dos Correios também pretendia encerrar a greve desde a semana passada. A categoria disse não. Há aspectos muito positivos na postura soberana das bases em relação às cúpulas sindicais. As decisões que partem de baixo para cima - e não o contrário, como comumente ocorre - são mais legítimas e democráticas. Mas a situação tem, também, seus inconvenientes. Um é imediato: fica muito difícil negociar quando não há interlocutores capazes de falar em nome do sentimento dos trabalhadores. Acaba acontecendo de empregadores e sindicatos firmarem acordos que são rechaçados pelas categorias. Os dirigentes são desmoralizados. A palavra deles, como negociadores, passa a valer muito pouco, pois há deslocamento de visões e interesses. Tal situação tem causa de raízes mais profundas, graves e conjunturais: o descolamento entre os representantes e aqueles que deveriam representar.


REPRESENTANTES E REPRESENTADOS

O fenômeno não chega a ser novo. Talvez seja tão velho quanto a democracia representativa. Na política brasileira, está entre as causas centrais da crise estrutural do modelo construído no pós-redemocratização. Crise essa cujo coração está justamente no Poder Legislativo, responsável por traduzir a vontade do conjunto e da pluralidade dos eleitores. No meio sindical, a situação não é, também, propriamente nova. A história dos movimentos de trabalhadores está repleta de exemplos que vão do peleguismo ao vanguardismo – lideranças atreladas aos patrões ou, no extremo oposto, absolutamente radicais. Ambas distanciadas das bases de modo equidistante. Se não é novidade, não deixa de ser preocupante que tais distorções permaneçam presentes no novo momento de mobilização social e de eclosão de greves pelo qual passa o Brasil.
Não que a postura das bases esteja necessariamente certa. No caso dos Correios, por exemplo, a espera pelo julgamento do dissídio coletivo no Tribunal Superior do Trabalho (TST) praticamente não trouxe frutos. Mas, efetivamente, nos vários casos, os líderes têm sido incapazes de, pelo menos, comunicar-se de forma eficiente com os trabalhadores.
Duradouro ou não, o País atravessa período de efervescência na sociedade civil como talvez não se tenha visto em todo o governo Lula. Em parte pela postura linha dura de Dilma Rousseff, setores que permaneceram dóceis em relação ao presidente-operário dão sinais nítidos de insatisfação. O momento é novo, mas, até agora, os dirigentes sindicais parecem deslocados no tempo.
PCDOB EM CHOQUE COM O GOVERNO
Desde que o PT surgiu, o PCdoB perdeu espaço dentro da esquerda brasileira e passou a resignado, embora contrariado, coadjuvante. Mas, recentemente, o pequeno parceiro tem dado dores de cabeça ao Governo Federal. Tem sido assim, por exemplo, na votação do Código Florestal. E, agora, na tramitação da famigerada Desvinculação das Receitas da União. A DRU, como é chamada, trata-se de uma artimanha contábil para permitir ao Governo usar como bem quiser dinheiro que deveria ter destinação específica. Desde a década de 90, essa desvinculação tirou centenas de bilhões de reais da chamada área social. Só para o orçamento de 2012, estão previstos R$ 61 bilhões oriundos da DRU, para livre usufruto da administração Dilma Rousseff. Mas o PCdoB se articula para vincular novamente parte dessas despesas. Parlamentares do partido querem garantir que 10% desse dinheiro seja destinado à saúde. A ideia é muito coerente com o discurso dos que, até outro dia, pretendiam criar novo imposto para financiar o setor. Mas o Planalto não gosta nada dessa história. Na Folha de S.Paulo de ontem, o deputado federal cearense José Guimarães (PT), vice-líder de Dilma na Câmara, manifestou a contrariedade com o aliado. “O PC do B não tem razão para ter comportamento dúbio em relação ao governo. É um constrangimento inaceitável”.

Érico Firmo
ericofirmo@opovo.com.br

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